Combate a erosão da costa tem sido pouco eficaz
A erosão costeira está a ser combatida de forma pouco eficaz, de acordo com a opinião de alguns especialistas. O caso da Costa da Caprica é um dos mais evidentes, com a alimentação artifical de areias nas praias a ser muito criticada por ambientalistas por considerarem que se está a deitar dinheiro ao mar e a não resolver o problema de fundo.
Para José Manuel Cerejeira, especialista em obras marítimas, a alimentação artificial das praias, sobretudo na Costa da Caparica, executada pelo Instituto Nacional da Água (INAG), "não vai resolver o problema da Costa de forma permanente". O engenheiro civil diz que "não faz sentido estar a alimentar as praias sem que seja reconstruído o banco de areia que ligava, há mais de dois séculos, a Cova do Vapor ao Bugio" porque, garante, "a prazo e por acção do mar, a areia vai ser levada para o vale do rio Tejo. "Só o fecho da golada permitirá assegurar a protecção definitiva das praias da Costa da Caparica, facilitar a navegação no Tejo, e ganhar terrenos ao mar", defende.
Também Carla Graça, do núcleo de Setúbal da Quercus, concorda com o engenheiro em relação à precariedade da alimentação artificial das praias: "Este tipo de intervenção é apenas um penso rápido", afirma.
Noutra perspectiva, o engenheiro do INAG António Rodrigues diz que, "se não fosse a alimentação artificial da linha da costa, a Costa de Caparica já não existia". "Fechar a golada não é solução imediata. Se a fechássemos amanhã, seriam precisos pelo menos dez anos para que o equilíbrio na Costa de Caparica fosse reposto", afirma. "Além disso, é uma obra megalómana em termos de custos e de execução. Não posso sequer dizer se é ou não sustentável", disse.
A Norte, a costa de Esmoriz, no concelho de Ovar, é uma das zonas do País mais afectadas pelo avanço do mar, que põe em risco as casas existentes a cerca de 60 metros da linha de rebentação. Alcides Alves, presidente da Junta de Freguesia de Esmoriz, aponta que a época das chamadas marés vivas é sempre a pior: "O mar fica muito agitado, as ondas rebentam com a força toda contra a costa e o vento fá-las mais altas do que o costume".
O local mais problemático é o da chamada "praia velha" de Esmoriz. "Há cerca de dois anos, quando o mar chegou às casas e ameaçou totalmente o bairro piscatório, chegámos a evacuar três ou quatro famílias", recorda o autarca. Maria Silva e Manuela Oliveira são moradoras do bairro e lembram-se desse Inverno, em que "a situação esteve realmente complicada". "As vagas deitaram pedras abaixo, vieram até às casas e, como eram tão altas, depois ficou por lá um regato com aquela água toda que se ia acumulando", recorda Manuela.
O desaparecimento do areal já levou a que o município de Ovar fosse reconhecido pela Administração Central como "zona crítica" no que se refere ao ordenamento da sua linha de costa. Para abrandar o avanço do mar, toda a orla costeira do concelho está, por isso, a ser intervencionada pelo Instituto Nacional da Água, de acordo com um projecto que o Ministério do Ambiente orçamentou em seis milhões de euros.
No caso de Esmoriz, os trabalhos começaram em Novembro de 2008 e incluem a reabilitação de quatro esporões e reforço de toda a defesa aderente da linha de costa. Alcides Alves reconhece que são "obras muito significativas", mas não acredita que resolvam as questões de fundo.
Diário de Noticias dia 11 de maio
Publicado por : Maria Monteiro 10ºE